No livreto de Márcio Jr, alguns dos aterradores personagens da sanha genocida
Cachorrinho de madame, Podridão da morte: perfeitos codinomes para procuradores e ministros
Dos livros lindos que recebo.
“Com a palavra (inapropriado para menores de 18 anos, evangélicos e bolsonaristas)” reúne os desafios de Márcio Jr (marciomechanics@hotmail.com) no festival Inktober de 2019.
Márcio Paixão Júnior é desenhista e editor de sua arte na mmarteproducoes@hotmail.com
Suas criaturinhas são os inimigos que disputaremos na fila do soco quando a revolução acontecer.
Bozós, olavos, micheques, malafaias estão todos lá, retratados como se deve.
Quadrinhista e antropólogo lança livro onde reúne hqs que interpretam as narrativas desses povos
O artista fala para nós em live da página “Viagem ao Fundo do Baú”
Aqui, a live na qual conversamos com André Toral sobre seu livro “A Alma que Caiu do Corpo”, pela editora Veneta, em torno de histórias sobre os indígenas brasileiros.
A seguir, a live de que participei com o pessoal da página “Viagem ao Fundo do Baú” sobre o mais recente trabalho do artista, antropólogo, professor e pesquisador André Toral.
Marcello Quintanilha sobre sua carreira e o novo romance em live da página “Viagem ao Fundo do Baú” em 31 de outubro de 2020
Convidada por Francisco Ucha e acompanhada por Ana Gisele França, Toni Rodrigues e Rui Brito, converso aqui com o quadrinhista Marcello Quintanilha sobre seu primeiro romance, “Deserama”, pela editora Veneta.
Uma conversa deliciosa, reflexiva, solta e risonha.
Mort Drucker, que morreu agora, era o responsável pelas paródias de filmes da Mad. Lá na minha adolescência, líamos a revista, mas nem sempre tínhamos dinheiro para os filmes. Então nós os conhecíamos primeiro pelas paródias do Drucker. Era um humor de mau humor. Ele apontava as incongruências de roteiro, as hipocrisias dos diálogos, a farsa em si dos blockbusters, com um desenho realista. E ansiávamos por uma nova versão de filme, todo mês.
Viver é isso. Jantar com Gilbert Shelton, Lora Fountain, Aline Kominsky e Robert Crumb na casa de Leca e Rogério, em São Paulo. E ainda ganhar este presente feito pelos convidados. Achei a noite tão especial que escrevi um texto sobre ela. Mas o Maurício ponderou que não se deve publicar intimidade. Passados dez anos, ainda não sei. O fato é que conversamos um tanto. Aline, Lora e eu, especialmente. Gavetas, suas lindas.
Morreu a Mariza, que era mesmo fenomenal. Artista de primeira. Seu físico me lembrava o do Miles Davis nos anos finais, um “tô passando por aqui, nem aí pra vocês”.
Resolvia qualquer pepino que fosse preciso ilustrar no Caderno de Sábado, por exemplo, o suplemento semanal cultural que o JT extinguiu bem antes de dar um fim a si mesmo (tenho a impressão de que se foi tb por desprezar a cultura…). Ela sabia interpretar o fato e levá-lo além.
De vez em quando, vamos lá, quase sempre, pedia dez mangos pra quem estivesse perto e sumia com eles. Se eu tinha, dava, fazer o quê? Uma vez, o ilustrador principal do JT, me fugiu o nome, perguntou a ela antes de lhe emprestar, sorrindo: “Mas você devolve, né?”
Exposição no CCBB-SP mostra um estado crítico para a produção artística africana contemporânea
Juiz de futebol, rei dos reis, por Omar Victor Diop
Nunca fui à África, mas sei que lá estão minhas origens, como a de todos os brasileiros. Meu avô materno falava aramaico, a dita língua de Cristo, por sua vez um histórico personagem negro. Minha pele é clara, contudo. Isto resulta em que eu não sofra a tortura cotidiana de restrições sociais e policiais vivida pelos negros em meu país. Permitam-me que mergulhe no espelho do continente e considere a exposição que descrevo a seguir um momento fundamental para nossa cultura de existência e resistência.
O curador Alfons Hug (centro) detalha suas escolhas para Ex Africa na sessão Explosões Musicais (Foto de Rosane Pavam)
Ex Africa (Da África) é o nome que o alemão Alfons Hug, curador de duas edições da Bienal de São Paulo (2002-04), duas vezes representante do pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza, antigo diretor do Instituto Goethe no Rio de Janeiro e em Lagos, na Nigéria, e há quatro décadas pesquisador na arte daquele continente, deu à exposição que organiza. A mostra, com cerca de noventa obras, fica em cartaz no CCBB-SP até 16 de julho e segue para Rio de Janeiro e Brasília.
Brasil, 2016, por Arjan Martins: afrodescendência
Ex Votos, do brasileiro Dalton Paula
O objetivo da exposição é promover um panorama abrangente (artes plásticas, música, performance, instalações, fotografia) da produção contemporânea africana. Dois brasileiros afrodescentes, Arjan Martins e Dalton Paula, mostram ali também suas obras dedicadas à herança africana.
A nigeriana Ndidi Dike, única mulher presente na mostra
Apenas uma mulher tem seu trabalho integrado à mostra: a nigeriana Ndidi Dike, com Exchange for Life, uma coleta de materiais ligados ao sofrimento do escravizado. Correntes, algemas, balas e cartazes de oferta e procura por negros compõem sua breve e aterrorizante instalação sobre a crueldade europeia, erigida no continente a partir da partilha africana, no século 19. A ausência feminina é explicada por Hug como uma decorrência de sua marginalização social e comercial em dois séculos. Aos poucos, ele crê, o mercado e as feiras começam a reconhecer as obras das mulheres. Por aqui, talvez tivesse faltado evidenciar a obra de uma artista crítica como Rosana Paulino, a evocar a ancestralidade do sofrimento negro.
Exchange for Life, de Ndidi Dike: objetos para escravizar
Para Hug, o contemporâneo é como que o esvaziado. Ou o que cresce. O que se ergue depois de uma criminosa intervenção. Ou o que ainda se pode dizer artístico, não importa a partir de que materiais ou orientações de pensamento. Como curador, ele parece buscar as inquietações, não as respostas. As formulações para uma arte crítica.
Geometry of the passing, de Youssef Limoud, a desintegração marrom
Parece encontrá-las em trabalhos como Geometry of the passing, de Youssef Limoud, uma investigação sobre a ruína a se abater sobre o continente. Sua obra, que ele considera a mais valiosa de Ex Africa, é como uma maquete da destruição, composta a partir do marrom da ferrugem. O mesmo marrom, ele explica, dificilmente obtido hoje, quando a produção artística é demasiada e impede a fixação do tom. Os pintores do Barroco, sim, usaram-na bem. Mas eles podiam deixar a tinta descansar por períodos de um ano até que a deitassem em suas telas.
Fragments White Cube Bermondsey, pelo ganês Ibrahim Mahama: meus caixotes, minha vida (Foto de Rosane Pavam)
Uma imensa instalação de abertura, Fragments White Cube Bermondsey, pelo muçulmano ganês Ibrahim Mahama, dimensiona a arquitetura da pobreza com caixotes.
Desenhos de Lagos, do nigeriano Karo Akpokiere
As telas ainda são a principal orientação clássica entre as obras brasileiras e africanas. Contudo, como de uso, estão na fotografia e no desenho (como o do nigeriano Karo Akpokiere) os experimentos mais críticos e realistas deste período. O fotógrafo senegalês Omar Victor Diop faz o retrato dos futebolistas como novos imperadores. Reveste de nobreza seu perfil ao parafrasear as séries de Jean Michel Basquiat sobre os heróicos esportistas negros.
Nairóbi, 2014, pelo sul-africano Guy Tillim
Escolhidas por Hug, as fotografias de Guy Tillim, que descortina as ruas, do retratista nigeriano J. D. ‘Okhai Ojekere (um antecessor de Diop) ou do fotógrafo sul-africano de ambientação interna Andrew Tshabangu, a evocar o americano Walker Evans, nos fazem caminhar por dentro de cada país segundo um entendimento ocidental anterior. Sob a mesma abordagem, mas rica em transparências, a instalação Ponte City, de Mikhael Subotzky e Patrick Waterhouse, sobrepõe a exibição contínua, por meio de um projetor, da ocupação de um edifício outrora de alto padrão em Joanesburgo.
Beri Beri, do nigeriano J. D. ‘Okhai Ojeikere
Interior de um quarto, pelo sul-africano Andrew Tshabangu
A instalação Ponte City, em Joanesburgo, por Mikhael Subotzky e Patrick Waterhouse
A exposição se divide entre os eixos Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais. Nesta última sessão exibe-se o convencionalismo do funk ostentação em línguas diferentes. E lá estará a enorme qualidade do angolano Nástio Mosquito, a ecoar David Bowie em Hilário.
A sessão musical, que insere a produção da indústria cultural africana como provocativa oposição à musicalidade de raiz, ainda presente no continente, talvez deixe o visitante com um sabor amargo, de ferrugem das ruínas.